Métricas isoladas põem em xeque decisões sobre produtividade

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A discussão sobre como mensurar a produtividade de colaboradores voltou a ganhar espaço no meio empresarial brasileiro após decisões recentes que utilizaram dados de “inatividade de tela” como justificativa para avaliar o desempenho no trabalho remoto. O episódio reforçou um dilema já apontado por pesquisas internacionais: líderes ainda carecem de métricas claras e contextualizadas para interpretar a real eficiência das equipes.
De acordo com o Microsoft Work Trend Index 2025, funcionários são interrompidos em média a cada dois minutos durante a jornada, e 60% das reuniões corporativas ocorrem de forma não planejada. Esses fatores, embora não apareçam diretamente em métricas superficiais, como as de presença ou de tempo conectado ao computador, são influenciadores de desempenho.
É nesse contexto que surgem soluções como as da Evope, empresa brasileira de inteligência artificial focada em análise de produtividade. Essas ferramentas realizam o cruzamento de dados para analisar a produtividade dentro de um cenário mais amplo, considerando particularidades de cada tipo de tarefa.
Segundo Danilo Lira, CEO da Evope, “quando o gestor se apoia apenas em indicadores de presença ou cliques, corre-se o risco de tomar decisões imprecisas. A análise integrada de dados mostra, por exemplo, se a improdutividade está ligada a variáveis humanas ou sazonais, como o excesso de reuniões, interrupções ou sobrecarga”.
Ainda de acordo com o CEO, essas soluções trazem um recurso além da mensuração de produtividade: a identificação de propensão ao burnout. Por meio da coleta de informações sobre o trabalho, as ferramentas de inteligência artificial (IA) geram alertas preventivos que ajudam gestores a redistribuir tarefas e evitar a sobrecarga de colaboradores. Segundo Lira, esse tipo de diagnóstico abre espaço para intervenções mais saudáveis, equilibrando o desempenho e o bem-estar das equipes.
Durante a pandemia, estas soluções buscaram ajudar diversas companhias a compreender os impactos do home office sobre suas equipes, por meio do ajuste de processos.
Estudo publicado pela Harvard Business Review mostra que a multitarefa pode reduzir a produtividade em até 40%, além de elevar os níveis de estresse e de esgotamento. Ainda assim, tais impactos são dificilmente detectados por sistemas que mensuram somente atividade de tela ou cliques.
A consequência pode ser a adoção de medidas equivocadas, como avaliações de desempenho distorcidas, cortes de equipes e a perda de talentos. Levantamento da Gallup revela que times com alto engajamento apresentam até 23% mais lucratividade e de 14% a 18% mais produtividade.
Especialistas ressaltam que a adoção de tecnologias de mensuração requer diretrizes institucionais explícitas. O relatório Leading in a Hybrid World, da Harvard Business Publishing, destaca que o sucesso do trabalho híbrido está condicionado à transparência nas expectativas, à confiança mútua e ao foco na entrega de resultados, em oposição a práticas de controle excessivo que podem prejudicar o vínculo entre empresa e colaboradores.
Estudos globais mostram que, com a consolidação do trabalho híbrido e remoto, a mensuração de foco e distração tende a permanecer no centro da pauta corporativa. Desta forma, decisões podem depender cada vez mais de evidências robustas, baseadas em dados contextualizados, que ajudem líderes a equilibrar eficiência, bem-estar e sustentabilidade no longo prazo.